A medicina humana e veterinária estão passando por um belíssimo momento de transição, onde duas questões de suprema importância neste ponto de mutação, estão sendo abordadas de forma científica e até acadêmica na área de saúde.
Uma delas é a espiritualidade clínica em seres humanos já sugerida como um dos aspectos da saúde traçados na Carta de Ottawa (1986) e através da Organização Mundial de Saúde/Código Internacional de Doenças. Outro aspecto que tem se observado é a direta necessidade que temos, como seres humanos e acima de tudo como médicos, de nos curarmos primeiramente de nossas dores da alma, que vem em primeira instância, através do autoconhecimento.
Assim, autoconhecimento e espiritualidade são faces de uma mesma moeda que estão destinadas a uma medicina mais coerente, humanitária e amorosa. Existem diversos caminhos para se alcançar autoconhecimento e espiritualidade, mas sem dúvidas, a meditação é um dos caminhos conhecidos mais antigos para se atingir com profundidade
Somente estas duas amplas abordagens já nos conduz a falar sobre Meditação na medicina humana e veterinária, e sobretudo, durante os primeiros passos de formação acadêmica.
A Meditação não é uma prática religiosa, muito embora ela possa ser adotada por algumas religiões como Hinduísmo, Budismo e filosofias como o Zen, Ioga, Confucionismo e Taoísmo. Meditar é contemplar-se a si mesmo. É tornar-se um observador de si. Meditar é ter intimidade verdadeira com seu Eu Maior.
Podemos definir meditação como uma técnica definida basicamente em duas etapas: definir uma âncora e permitir o relaxamento da lógica (falaremos mais a frente). Ela existe a desde 300 a.C – 1500 a.C, e tornou-se um ponto de pesquisas científicas e buscas por respostas de muitos pesquisadores, que começaram a estudar como funciona o cérebro de monges e meditadores.
Antigamente, os benefícios e fenômenos da meditação eram observados apenas no comportamento do meditador, que se tornava mais consciente e mais relaxado. Mas com o avanço da tecnologia, como a tomografia computadorizada e os eletroencefalogramas de ultima geração, foi possível se detectar quais partes exatas do Sistema Nervoso Central são ativadas e desativadas, e quais tipos de ondas cerebrais são emitidas a partir de um cérebro durante e depois da prática.
Algumas destas descobertas são relevantes de serem compartilhados. Estas notáveis descobertas podem ser detectadas após 8 semanas de prática.
– A massa cinzenta aumenta no córtex frontal (memória e foco nas decisões) – Sara Lazar (Neurocientista do Hospital de Massachusetts e da Escola de Medicina de Harvard)
– Aumento do giro cingulado posterior (memórias pretéritas) – Sara Lazar (Neurocientista do Hospital de Massachusetts e da Escola de Medicina de Harvard)
– Aumento da área do hipocampo esquerdo, que nos possibilita maiores aprendizados, cognição e controle emocional – Sara Lazar (Neurocientista do Hospital de Massachusetts e da Escola de Medicina de Harvard)
– Aumento da Junção TemporoParietal (JTP), relacionada a compaixão, empatia e tomada de decisão, além da meditação liberar ocitocina, que aumenta ainda mais o sentimento de amor interno – Sara Lazar (Neurocientista do Hospital de Massachusetts e da Escola de Medicina de Harvard)
– Novas conexões neuronais na área da Ponte acontecem, e a amídagla diminui de tamanho, o que diminui o comportamento instintivo de medo e fuga – Sara Lazar (Neurocientista do Hospital de Massachusetts e da Escola de Medicina de Harvard)
Além disso, ondas cerebrais alfa e theta podem ser detectadas, nos conduzindo a um imenso universo existencial de compreensão de quem somos.
Se você pesquisar sobre o assunto, já conseguirá encontrar milhares de publicações científicas no PubMed e outras. Mas, gostaria de fazer referência ao Dr. Roberto Cardoso, Médico formado pela UnB com pós graduação na área, e autor de um livro que merece ser lido, que é “Medicina e Meditação: Um Médico Ensina a Meditar”, que já se encontra na terceira edição. Esta obra maravilhosa traz ensinamentos básicos e nos mostra a importância desta prática na medicina como indicação terapêutica.
Duas etapas da meditação são bem importantes, e mesmo que as vezes possamos encontrar nomenclaturas distintas sugeridas pela NCCAM – National Center For Complementar and Alternative Medicine, as duas etapas básicas da meditação são:
- Escolha de uma âncora (foco): algo que você possa escolher para focar (exemplo: fogo de uma vela, fumaça de um incenso, sua respiração, música, um ponto na parede, ou como brinca o Dr. Roberto Cardoso, no início até um elefante é valido)
- Relaxamento da Lógica é o nome que damos àquele momento que os pensamentos começam a vir de forma desordenada e confusa, e que cabe ao meditador apenas: relaxar, observar, não-julgar, não se prender, e o principal, não querer controlar a mente e os pensamentos. Deixa fluir e observe.
Feito essas duas etapas, as descobertas serão gradativas a medida que o meditador avança e persiste.
Mas o que isso tem haver por exemplo com a medicina veterinária? Tudo (risos).
– Famílias (tutores) que meditam são mais calmas, estáveis emocionalmente e mais amorosas, e, consequentemente, os animais serão mais calmos e adoecerão menos;
– Animais gostam de se aproximar de pessoas que estejam meditando;
– Médicos veterinários que meditam conseguem estar mais conectados com o sentimento de amor, consolo, compaixão e entrega;
– Médicos veterinários e estudantes que meditam aumentam a capacidade de estudo, foco, concentração e lembrança. São menos estressados e mais felizes.
– Médicos veterinários e estudantes que meditam passam a se conhecer melhor, se desidentificando do ego, passando a ser mais assertivo e menos reativo a questões externas.
Desta forma, essa é a orientação. Não é fácil no início, mas certamente começaras a trilhar um conhecimento profundo sobre quem você é de fato, e acima de tudo, de direito. Não abra mão de saber quem tu és, porque uma vez sabendo essa informação, você será verdadeiramente um médico pronto para compreender o outro.
Um abraço fraterno e carinhoso
Dra. Carla Soares – Diretora do portal Soul Vet
Assistam abaixo uma bela entrevista do grupo S.O.S Veterinária falando sobre a necessidade do médico veterinário buscar se autoconhecer.
Entrevista na Rádio Mundial com Dr. Marcos Fernandes, Dra. Pétuli Consentini e Dra. Carla Soares.
(Compartilhamento de vídeo autorizado pela Rádio Mundial.)